O ensino da língua materna pode processar-se em duas vertentes: a aprendizagem formal de conhecimentos declarativos sobre a língua, onde tradicionalmente se situa o ensino da gramática, e o desenvolvimento da competência comunicativa dos alunos (Castro,2000; Lopes,2005), através dos géneros textuais formais e públicos (Schneuwly & Dolz,2011; Marchuschi, 2008) para se desenvolverem as capacidades verbais dos domínios da escrita, da oralidade e da leitura (Ferraz,2007). As orientações curriculares preveem, assim, que os alunos escrevam e leiam textos diferentes, que utilizem a língua oral e situações formais para que assim conquistem a consciência da diversidade discursiva e das marcas linguísticas que diferenciam tipos de textos. A reflexão linguística e o conhecimento gramatical são imprescindíveis para melhorar as destrezas comunicativas/discursivas dos alunos (PMCPEB,2015:5-6).
Dentro da perspetiva de refletir acerca do ensino da gramática associada ao desenvolvimento da competência comunicativa (Camps & Zayas (coord.), 2006), torna-se relevante um olhar atento ao manual, uma vez que é considerado o principal recurso utilizado pelo professor no desenvolvimento da sua prática (Valverde et al., 2002). Este instrumento didático desempenha um papel mediador entre o currículo prescrito e o currículo programado e planificado, e pela sua função de legitimação cultural que veicula informação (Zabalza,1992), revelando-se uma fonte inquestionável na transmissão e divulgação do conhecimento na comunidade (Apple, [1986]2002).
Destaca-se a importância de se refletir sobre como os resultados das pesquisas linguísticas podem auxiliar no desenvolvimento da leitura e da escrita na sala de aula, por meio da explicitação dos mecanismos linguísticos que contribuem para a construção textual.
Este trabalho tem como objetivo orientador perceber como os manuais fazem a articulação entre o conhecimento gramatical e o desenvolvimento da dimensão da competência comunicativa da escrita: visando, especificamente, o desenvolvimento das habilidades de escrita argumentativa em alunos de 9.º ano (14/15 anos), por meio da explicitação dos mecanismos linguísticos e dos processos que contribuem para a construção da argumentação.