Lalíngua, o útero da poesia: Manoel de Barros e sua poetura de gerar nascimentos | Autores: Bruno Monteiro Herculino (FFCLRP/USP - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo) ; Lucília Maria Abrahão E Sousa (FFCLRP/USP - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo) |
Resumo: Partindo do campo teórico da Análise de Discurso e da Psicanálise, pretendemos na urdidura deste escrito, apresentar como as noções do poético e de lalíngua podem ser colocadas em litoral. Para tanto, lançaremos mão da poesia de Manoel de Barros, que em sua poetura de gerar nascimentos, provoca-nos a pensar como o poético não é estranho a língua, mas o seu próprio, isto é, aquilo de que é feito o seu funcionamento (Pêcheux, 1982). Deste modo, compreendemos a língua em sua equivocidade, ou seja, a não estabilidade da língua, marcada pelo furo e pelo impossível. O equívoco como essa irrupção do real que se manifesta no acontecimento falhoso da língua, atestando que algo da língua se apresenta como inatingível, um impossível de tudo dizer, portanto, será nessa tentativa de mordiscar o sem-palavra que algo da poesia se realiza. Essa seria a propriedade do poético, de fazer furo no sentido previsível, na poesia manoelesca, se torna “possível” ouvir as vozes das águas, o formato dos cantos, implantar costela no vento, ter no olhar um silêncio de chão, a voz azul, fotografar o silêncio. Temos aí uma integral de equívocos, manifestação de lalíngua, aquilo que é o detrás da linguagem estruturada sintaxicamente, está para-além do campo semântico, lalíngua é Isso que está fora da língua, que falta o entrelaçamento das palavras e sentidos (Soler, 2012). Lalíngua é da ordem do real, núcleo sólido onde a palavra não entra, mas faz borda, e é aí que está toda artesania do poeta que caminhando pelas beiradas do dizer, faz poesia. O poeta faz algo com lalíngua, Barros, escreveu um livro sobre o nada, de coisa nenhuma, de coisas desúteis. Lalíngua é o útero da poesia, órgão oco que recebe o som sem sentido e o fecunda, gerando equívocos e parindo o novo.
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