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Simpósio Mundial de Estudos de Língua Portuguesa
Resumo

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Laerte(-se): um corpo não resolvido para todo sempre

Autores:
Bruno Monteiro Herculino (FFCLRP/USP - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo) ; Lucília Maria Abrahão E Sousa (FFCLRP/USP - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo)

Resumo:

Neste escrito, sob à luz da Análise de Discurso teorizada por Michel Pêcheux e da Psicanálise fundada por Sigmund Freud e desdobrada por Jacques Lacan, pretendemos refletir sobre o documentário Laerte-se (2017), tomando-o o corpo da cartunista como materialidade significante do sujeito e como os discursos desenvolvimentistas, mecanicistas e biologistas atravessam a fala do sujeito, definindo e silenciando seu corpo. Um silenciamento como agente da censura (Orlandi, 2007), que proíbe um corpo “não resolvido”, que faz convi(ver) dois sexos, desestabilizando o “semanticamente normal”, esse corpo que materializa o gênero masculino e feminino, fundando um acontecimento e provocando uma rachadura no muro estabilizado dos sentidos constituídos por uma memória social sobre o sexo e gênero (Bocchi, 2017). Neste caso, a censura é uma forma política de interdição que faz silenciar sujeitos e corpos trans, evidenciando um funcionamento ideológico onde interpela tais sujeitos (e seus corpos) para buscarem uma normalidade, uma adequação corporal. Podemos, verificar tal funcionamento quando Laerte, em relação ao implante de próteses de silicone no peito, diz que está se debatendo com quatro verbos “o querer, o poder, o precisar e o dever”, mas resolvida com os três primeiros, ainda se vê perturbada com o dever, pois “diz respeito ao olhar do outro”, ou seja, aí está o efeito ideológico, tornar-se mulher evidentemente é portar um par de seios, um corpo que só é legitimado pelo olhar do Outro. Laerte nos diz: “eu acho que dificilmente um corpo está resolvido para todo sempre”, pois trata-se de um real do corpo, isto é, a eterna inscrição de que algo sempre falta, algo que não se resolve, resiste a ser simbolizado, porém, algo é possível de se simbolizar, onde o sujeito e seu corpo resiste a saberes legitimados e faz falar o seu desejo.