Ancoradas nos estudos discursivos foucaultianos, intentamos compreender o corpo, notadamente o corpo e a vida das mulheres, como objeto do discurso e, nesse desafio, examinar as condições de existência e de circulação, nas redes sociais, dos discursos apreendidos em comentários e aplicativos de mensagens sobre casos de feminicídio, notadamente sobre o caso Tatiane Spitzner. O que nos interessa, mais precisamente, são os enunciados que colocam a vítima na posição de culpada pela própria morte. A partir das discussões de Michel Foucault, buscamos entender quais foram as condições/acontecimentos que permitiram a irrupção desses discursos acerca da morte de Tatiane Spitzner e de que maneira esses discursos contribuíram para a subjetivação do sujeito mulher. Articulando os conceitos fundamentais da Análise do Discurso e as discussões sobre saber, poder, acontecimento e governamentalidade, discutidos na arqueogenealogia de Foucault, nossa pesquisa tem por objetivo analisar os processos de subjetivação do sujeito mulher, principalmente no que tange o controle de seus corpos, sua sexualidade e seus direitos de escolha e liberdade; descrever e analisar os discursos que irromperam em comentários acerca das notícias sobre o caso Tatiane Spitzer, culpabilizando-a, materializados em redes sociais e aplicativos de mensagens e a partir de tais discursos, articular teórica e analiticamente os conceitos já mencionados, com os efeitos discursivos que visam ao controle da liberdade e das condutas morais dos corpos das mulheres. Dito isso, questionamos: quais foram as condições sócio-históricas de emergência de enunciados que, ainda hoje, condenam as mulheres, excluem-nas da posição de vítimas e inserem-nas na posição de culpadas em casos de feminicídio?