A profissionalização já se apresenta, desde o Brasil-colônia, como resposta a questões econômicas, sociais e culturais da camada política brasileira. Motivada por uma alegada preocupação do Estado em propiciar a inserção de jovens provindos de camadas sociais mais pobres .
A criação do ensino de nível médio integrado ao ensino profissionalizante (EMIEP), uma nova abordagem educacional de modo a integrar formação básica ampla e profissional, se deu por meio do Decreto presidencial nº 5.154/2004, sendo regulamentada no estado de Mato Grosso por meio da Lei nº 8.806/2006. Os tramites e debates envolvendo sua implantação no estado gerou uma série de discursos na esfera legislativa sobre a inserção no mercado de trabalho de um perfil de profissional formado para atender a demanda de trabalhadores com formação técnica através da formação humana e científica propiciada pelo currículo básico do ensino médio integrado às disciplinas de caráter técnico. Nesses discursos, os termos “inovação” e “tecnologia”, frequentemente retomados, figuram hora como nomenclatura de recursos técnicos, atrelados ao sentido da instrumentalização.
Porém, enquanto pesquisadores filiados à Análise do Discurso pecheutiana, nos depreendemos da análise de conteúdo das leis e suas descrições de formação, alunos, escola e educação para investigarmos como se constroem, nos discursos sobre o ensino EMIEP, imaginários de escola, sujeito-professor e intervenção socioeconômica nos discursos sobre a modalidade EMIEP e, não obstante, desvelar como os termos “inovação”/“tecnologia” são ressignificados nesses discursos. A abordagem discursiva nos permite explorar os sentidos outros da unidade de análise – texto, materialização concreta do discurso – em sua articulação entre as redes de filiação de sentido (interdiscurso) e as marcas no texto (intradiscurso), possibilitando trespassar a ideia de unidade fechada da materialidade linguística à partir do objeto linguístico para apreender o “objeto sociohistórico onde o linguístico intervém como pressuposto” (ORLANDI, 1995, p. 112).