Este trabalho se propõe a pensar na escrita visceral de duas escritoras que experimentaram por muito tempo o lugar do apagamento na literatura brasileira- Carolina Maria de Jesus e Conceição Evaristo- e que só muito recentemente passaram a ser ouvidas, mas ainda bastante invisibilizadas pelo cânone acentuadamente masculino e branco. Essas escritas literárias serão colocadas em diálogo com o pensamento crítico e teórico de Glória Anzaldúa, feminista chicana, a fim de analisar a importância fundamental para a mulher negra e periférica da escrita como possibilidade de romper os silenciamentos, falar com a própria voz, reconciliar-se consigo mesma, reconstruir-se e empoderar-se. Não existe para Anzaldúa separação possível entre vida e escrita, conclamando as mulheres periféricas a escrever “com suas línguas de fogo”, colocando “suas tripas no papel”. Essa escrita pungente se aproxima da “escrevivência” proposta por Conceição Evaristo e das vivências transformadas em narrativas feita por Carolina de Jesus. Sabendo da importância de ler estas produções para além da chave do que se classifica como "interessante e exótico", torna-se fundamental refletir sobre os muitos conflitos que marcam os espaços -institucionais e outros- de representação para segmentos tradicionalmente marginalizados.
Os textos analisados serão Maria e Olhos d`água, de Conceição Evaristo, e Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus. A metodologia adotada será a comparativa, tendo como fonte textos literários, relatos e entrevistas, a fim de melhor compormos um contexto contemporâneo da voz da marginalidade no Brasil.