O ensino da Língua Portuguesa (L1) apresenta, pelo menos, duas polarizações atualmente. Por um lado, temos uma prática tradicional, centrada em análises linguísticas exaustivas, por outro lado, temos uma proposta centrada no uso e, portanto, na produção e recepção de textos orais e escritos. Em meio a isso, há os que seguem defendendo uma prática tradicional, pois para eles essa é a metodologia que “funciona”, enquanto que outros parecem não compreender as propostas inovadoras, ao assumirem que o trabalho com o texto não precisa ser sistematizado e que a forma linguística não precisa ser objeto de estudo, sob pena de estarem aderindo a práticas já ultrapassadas. Relativamente ao ensino da ortografia vemos essas duas tendências. As práticas tradicionais, muito centradas em atividades de cópia e ditado, não permitem que o aluno possa refletir acerca do funcionamento da língua (oral e escrita). Já as práticas exclusivamente voltadas para a leitura e produção de textos, em muitos casos, deixam o ensino sistemático da ortografia de lado, pois se acredita que quanto mais o aluno escrever ou ler, mais aprenderá a forma correta. Neste trabalho, a partir de dados de produção escrita de uma turma de terceiro ano do ensino fundamental, faremos reflexões acerca da importância do embasamento teórico do professor em teorias fonológicas, fundamental para realizar o diagnóstico ortográfico de seus alunos, bem como para planejar suas ações, no sentido de que erros de natureza fonético-fonológica sejam tratados de modo diferente daqueles erros de natureza puramente ortográfica. Defendemos que uma prática que trata a ortografia como objeto de ensino e aprendizagem, ancorada em teorias fonológicas, é capaz de obter melhores resultados em sala de aula, em comparação a abordagens tradicionais, baseadas na memorização, e aquelas baseadas puramente na leitura e produção de textos.