O trabalho que se apresenta visa apresentar as peculiaridades da voz poética na escrita feminina. Daremos voz e corpo à poesia e à narrativa de duas escritoras mulheres: Ana Cristina Cesar, poeta brasileira e Elena Ferrante, romancista italiana. Por que ressaltar o gênero? No começo do século XX, Virginia Woolf se viu confrontada com posicionamentos de homens que colocavam as mulheres como inferiores artística e intelectualmente. Woolf explicou que a desigualdade se dava pelas circunstâncias: as mulheres simplesmente eram proibidas ou desencorajadas a ocuparem tais espaços de produção. Além disso, os parâmetros sempre masculinos, de logos privilegiado, desvalorizavam outros modos de criar, outras vozes; como se uma produção artística fosse boa ou excelente apenas se estivesse de acordo com um padrão. Essa forma de articulação entre o pensamento, a escrita e a leitura, que privilegia apenas o logos, esqueceu a voz – voz como elemento que se desdobra, que não apresenta certezas, mas equivocidades. Trataremos, portanto, da voz dessas duas escritoras mulheres: Ana Cristina Cesar e Elena Ferrante; escritoras que nos apresentam outros ritmos e timbres, instaurados pelos buracos, pela possibilidade de faltas e falhas, pelas equivocidades, pela desvocalização do Logos e exatamente por isso, gozam de especial liberdade criativa.