Ofensa! O funcionamento do sentido no insulto. | Autores: Carlos Raphael dos Santos Gomes (UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas) |
Resumo: Este trabalho propõe investigar o funcionamento do sentido no insulto em língua portuguesa a partir da Semântica e da Análise do Discurso como lugares teóricos de movimentação de conceitos de descrição dos dados linguísticos partindo de um aparato teórico fundado em uma perspectiva materialista da interpretação do sentido, assim como compreender os limites da interlocução entre a análise linguística e a análise pragmaticista da realização perlocucional de ofender como ato de fala, tal como vem sendo praticado por autores como Austin desde os anos 60. Em todas as formas de interesse das características linguísticas, morais, interacionais, argumentativas, culturais envolvidas na realização do insulto é revelado seu núcleo nominal e designativo no vocativo de ofensa como modo de interpelação insultuosa, o que desafia o olhar para a língua e para as interações a partir da noção de harmonia. Estabelecemos inicialmente como arquivo de análise as denúncias de crime de injúria do banco de sentenças do Tribunal de Justiça em diferentes estados do Brasil. Os registros e os relatos dos casos descrevem situações diversas envolvendo relações virtuais, comentários e postagens em redes sociais e em aplicativos de conversa e situações materiais de convivência, situações institucionais e cotidianas em que as relações são marcadas por um caso de sentimento de desvalorização e ataque à honra através de um efeito de sentido produzido pelo insulto como violência verbal resultado da impolidez linguística. Uma das questões preliminares que se colocam a partir de nossa abordagem do sentido é o agenciamento e a representação dos lugares de dizer nos registros das interações pra além do ato de insultar, ao dizer “puta”, “bicha”, “macaco”, “vadia”, palavras registradas no arquivo analisado como insultuosas a partir de ataques de gênero e de raça, por exemplo, digo não me representar nesse mesmo modo de habitar o real corporal e simbolicamente.
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