Diversos estudos acerca do sistema do tratamento no Português Brasileiro (PB) (Rumeu (2004), Lopes (2005), Souza (2012), entre outros) apontaram que o processo de gramaticalização do pronome você teria começado entre os séculos XVIII e XIX. Já no início do século XX, você e tu passaram a ocorrer e a concorrer nos mesmos contextos discursivos e, a partir dos anos de 1930/40, o você suplantou o tu como estratégia de referência.
Como dito, os diversos trabalhos nos permitiram estabelecer um panorama bem claro sobre o tema no PB, todavia, os estudos sobre tu e você no Português Europeu (PE) ainda são poucos, o que torna a pesquisa sobre o tema ainda mais necessária, a fim de se tentar estabelecer algumas generalizações e apontamentos empíricos sobre o fenômeno.
Machado (2011), ao analisar o tratamento em peças teatrais, observou que a forma tu foi a estratégia predominante no PE, seguida de longe pela forma nominal o senhor. Já Guilherme e Bermejo (2016) analisaram o tratamento em corpora de fala e escrita do PE e observaram que a estratégia mais utilizada foi a forma nula de 2ª pessoa do singular, seguida das formas nominais o senhor e a senhora. Os poucos dados de você apareceram em contextos muito específicos, apresentando uma complexidade de fatores para sua utilização.
Por esse motivo, nosso objetivo é, através de um viés sócio-histórico, analisar as estratégias de referência ao interlocutor em diferentes contextos morfossintáticos, a partir de uma amostra de cartas brasileiras e portuguesas dos séculos XIX e XX. Para tal, por se tratar de uma investigação a partir de um corpus de uma diacronia passada, utilizaremos a Sociolinguística Histórica (CONDE SILVESTRE, 2007).