No presente trabalho iremos analisar a obra Desmundo (1996), da autora brasileira Ana Miranda, procurando observar quais topoi da misoginia se encontram presentes na obra. Para Howard Bloch (1995), o período medieval seria um ponto de partida extremamente frutífero para o estudo da misoginia e das suas articulações na cultura. Nesse sentido, partiremos da leitura dos textos fundadores do legado patrístico e da teoria de gênero para a delimitação de diferentes topoi da misoginia presentes no período medieval. Após constatarmos e recortamos quais seriam esses topoi, iremos nos aprofundar na obra Desmundo (1996), observando de qual maneira o tratamento das mulheres e do feminino na obra se articulam com relação aos diferentes dizeres sobre as mulheres no período medieval. Sendo a obra um romance de metaficção historiográfica, estamos lidando com um romance que se dá no século XVI, embora a obra tenha sido escrita no século XX. Assim sendo, é interessante observarmos, ainda, como se dá o olhar de uma escritora do século XX acerca da condição das mulheres no século XVI. Nossa hipótese é a de que os diferentes topoi misóginos do período medieval se encontram presentes na cultura ainda no séxulo XVI e no séxulo XX, de modo a estarem presentes na literatura e, mais especificamente, em Desmundo (1996).