À luz do pensamento bakhtiniano, que concebe a linguagem de um ponto de vista histórico, cultural e social que abarca, para efeito de compreensão e análise, a comunicação efetiva entre os sujeitos e os discursos nela implicados, o presente trabalho buscou compreender de que maneira se dá o processo de apropriação do texto literário a partir de práticas sociais fomentadas nas aulas de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, em turmas do 1º ano de cursos técnicos integrados ao ensino médio. Para tal, foram utilizadas como referencial teórico as contribuições de Cosson (2006) e Paulino & Cosson (2009) em relação à noção de letramento literário, bem como as contribuições de Bakhtin (1990; 2006; 2011) acerca do dialogismo, enunciado concreto, estilo e vozes sociais. Partindo da perspectiva da sequência didática, por meio dos conceitos de Schneuwly e Dolz (2004) e Zabala (1998), foram realizadas rodas de leitura da obra Quarto de despejo: o diário de uma favelada, de Carolina Maria de Jesus. Concluída a etapa da leitura, foram organizados mais três momentos em que, dialógica e colaborativamente, os aprendentes pudessem debater não só os aspectos voltados à constituição da narrativa como também os variados temas que dela emergiam, culminando na produção de mapas mentais que representassem as impressões e reflexões dos grupos acerca da obra literária estudada. Nesse contato com o texto literário, os aprendentes puderam ressignificar o sentido da literatura – e sua função social, ao perceberem que o seu papel transcende ao da representação da realidade, mas que desperta uma nova consciência social, desenvolvendo um olhar crítico para a sociedade em que vivem e assumindo-se agentes de transformação social.