Literatura e História: a participação das mulheres na Guerra do Paraguai

O livro “Cunhataí, um romance da guerra do Paraguai” (2003), da autora brasileira Maria Filomena Bouissou Lepecki, reescreve, sob a ótica da personagem Micaela, uma das batalhas da Guerra do Paraguai conhecida como “A retirada da Laguna”. O romance revê o passado para além das lentes cristalizadas, evoca vozes silenciadas, toca em assuntos e eventos marginalizados e abre caminhos para o debate em torno da descolonização de paradigmas hierárquicos em relação a gênero/classe/raça/lugar, sobretudo no que tange à participação das mulheres em guerras. Se ao reivindicar espaço e autoria sobre suas próprias histórias, as produções das mulheres atribuem novos sentidos às experiências e peculiaridades de cada localização (pública e privada), e de suas múltiplas identidades, certamente, ao recontar algumas das histórias da Guerra do Paraguai através de suas personagens femininas e de suas escrevivências, a escritura de Maria Filomena Lepecki gera instabilidades epistemológicas que marcam diferenças em relação à História oficial por intermédio de estreitas relações entre o ético, o estético e o político, quer seja em seu contexto espacial (da fronteira entre Brasil/Paraguai), temporal (entre passado e presente) ou corporal (das personagens), buscando as muitas formas a partir das quais as “mulheres fazem história e escrevem estórias”.