Tendo em vista a importância de se adequar os eixos temáticos e as propostas didáticas dos cursos de PLAc às demandas – pessoais e profissionais, por exemplo – apresentadas pelos imigrantes deslocados forçados, a fim de que o português seja compreendido não como a finalidade do processo de ensino-aprendizagem, mas como um meio para a viabilização de práticas sociais cotidianas adequadas à realidade desses grupos, o presente trabalho analisa dois capítulos de livros didáticos de PLA, a saber, Portas Abertas e Pode Entrar.
Tais capítulos, sendo um capítulo de cada livro, apresentam como parâmetro de comparação o mesmo eixo temático: a questão da apresentação pessoal e dos primeiros contatos com aspectos jurídicos e sociais, como o preenchimento de documentação. Para isso, são adotados o capítulo 3 (“Quem sou eu?”) do método Portas Abertas, que se apresenta como livro de “Português para Imigrantes”, e o capítulo 1 (“Cheguei ao Brasil”) do método Pode Entrar, que se apresenta como um livro de “Português do Brasil para refugiadas e refugiados”.
A proposta de análise desenvolvida tem como base a perspectiva de Moita Lopes (2006: 86) de que “a problemática que se apresenta como desafio para a contemporaneidade é [...] como podemos criar inteligibilidades sobre a vida contemporânea ao produzir conhecimento e, ao mesmo tempo, colaborar para que se abram alternativas sociais com base nas e com as vozes dos que estão à margem [...]”. Nesse sentido, a análise empreendida das propostas didáticas e dos eixos temáticos dos métodos mencionados também considera primordial a proposta de letramento crítico contemplada por Mattos (2010: 139), na qual "para o letramento crítico (LC), ela [a língua] é, em última análise, um instrumento de poder e de transformação social.”