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Simpósio Mundial de Estudos de Língua Portuguesa
Resumo


“Dicionário, não és tumba”: a vida lexical no trabalho lexicográfico

Autores:
Flavio de Aguiar Barbosa (UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

Resumo:

Este trabalho baseia-se em algumas noções fundamentais sobre as dinâmicas lexicais de uma língua: 1) o léxico é um conjunto inesgotável de unidades; 2) os usos lexicais são  processos ininterruptos de criação, variação, reformulação, consolidação, restrição e obsolescência; 3) a dicionarização não pode ser exaustiva, no máximo representativa dessas mesmas dinâmicas, em diversas fases de uma língua; 4) enfim, o maior desafio para elaboração de dicionários gerais de língua é o da representatividade, principalmente no que diz respeito ao balanceamento de níveis de língua (vocabulário comum, literário, técnico-científico, formal, regional, popular, neológico). Essas dificuldades são aumentadas por mitos e desinformação que envolvem os dicionários, como 1) a representação de oráculo, fonte inesgotável de informações; 2) a visão monolítica e exclusivamente normativa de língua; 3) a falta de familiaridade com a obra, inclusive por deficiências de formação escolar. Por sua vez, esses problemas correlacionam-se com ideias preconceituosas, como a de que o dicionário é um cemitério de palavras, sempre em descompasso com a vitalidade da língua; a de que o dicionário é um “pai dos burros”, obra desnecessária para quem é hábil com as palavras; a de que, patrulhando os registros lexicográficos é possível reformar a sociedade. Nossos comentários, nesta oportunidade, enfatizarão a ideia do dicionário como cemitério de palavras. Indicaremos procedimentos inadequados que ajudam a confirmar essa perspectiva negativa do fazer lexicográfico, assim como também proporemos práticas que ajudam a manter a necessária atualização das obras lexicográficas.