Esta pesquisa objetiva analisar a alternância conativa do português brasileiro, cujo comportamento sintático e semântico dialoga com estruturas partitivas do francês, com construções conativas do inglês e com sentenças antipassivas de línguas ergativas. Nessa linha de investigação, as línguas Acusativas apresentam uma curiosa situação sintático-semântica: objetos diretos de predicados transitivos tornam-se PPs, ocorrendo consequente mudança no papel temático desses objetos. O fenômeno é corroborado pelos seguintes dados do PB, do francês e do Inglês, respectivamente. (1a) Geraldo bebeu leite / (1b) Geraldo bebeu do leite; (2a) Ele a goûté les fraises / (2b) Ele a goûté aux fraises; (3a) The man ate the bread / (3b) The man ate at the bread. Adicionalmente, nas línguas ergativas, os objetos diretos das construções transitivas podem passar a ser nucleados por PPs, gerando estruturas antipassivas, conforme o seguinte exemplo da língua Maia.
(4a) mà’alob’ ’a-tan-ik màayah
bem 2sg-falar-perf Maia
“Você fala maia bem”
(4b) mà’alob’ ’a-t’àan ’itS màayah
bem 2sg-falar.apass prep Maia
“Você fala maia bem” (BLIGHT, 2004, p. 113-114)
No âmbito da literatura gerativa (e.g. Embick 2004; Levin & Rappaport 1995; Perlmuter 1978; Radford 2003 etc), verbos inacusativos e passivos são semelhantes porque apresentam um fator estrutural que os unifica, a saber: não projetam argumento externo agente; neste sentido, ambos predicados são defectivos na posição Spec-vP. Nossa hipótese é a de que enquanto as construções passivas possuem propriedades sintáticas de inacusatividade, as construções “antipassivas” (objetos diretos introduzidos por adposição) apresentam natureza sintática de construções inergativas, sendo, portanto, defectivas na posição Spec-VP. Finalmente, apesar de as construções com PPs serem semanticamente transitivas elas são sintaticamente intransitivas porque os DPs deixam de receber Caso abstrato do verbo e passam a receber Caso oblíquo do núcleo Po.