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Simpósio Mundial de Estudos de Língua Portuguesa
Resumo


Hesitações e correções como formas de heterogeneidade mostrada na fala infantil

Autores:
Cristina Gonçalves de Melo (UNESP - Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” )

Resumo:

A proposta deste estudo é investigar em que medida as formas de heterogeneidade mostrada indiciariam a presença do outro na cadeia discursiva da fala infantil, orientada pelos seguintes objetivos: (1) caracterizar com quais marcas linguísticas hesitações e correções, vistas como formas de heterogeneidade mostrada, irrompem na fala infantil; e (2) verificar em que medida tais formas indiciariam diferentes modos de negociação entre o sujeito que enuncia e os outros que se mostram como presentes (embora tidos como “exteriores”) na enunciação. Nossa concepção de heterogeneidade mostrada apoia-se em contribuições de Authier-Révuz (1990), segundo as quais essas formas seriam acontecimentos discursivos cujas marcas constituem indício da negociação do sujeito com os outros constitutivos do discurso – com o próprio interlocutor da situação enunciativa, com várias possibilidades de sentidos durante a produção do discurso e, também, com a rede de enunciados que o torna possível. Foram selecionadas gravações de quatro sessões de entrevistas semidirigidas com três crianças entre 4:10 e 6:3 anos. Em nossas análise iniciais, temos detectado indícios de que muitos “outros”, localizados em diferentes planos da língua e da linguagem, concorreriam nos momentos de emergência das hesitações e das correções. Nos momentos de hesitações, o sujeito apenas dá pistas de quais seriam esses “outros”, já que nem sempre se mostram linguisticamente no fio do discurso. Têm-se, em outras palavras, indícios da escuta antecipada de algo não materializado linguisticamente. Já nas correções, os “outros” são mostrados, de tal forma que correções poderiam ser caracterizadas como momentos de escuta (da materialidade linguística da própria fala) pelo sujeito que se identifica como centro do dizer. Trata-se, portanto, em ambas as situações, de momentos nos quais, segundo Authier-Révuz (1990), o sujeito (que se marca como eu no discurso) tenta se proteger da "ameaça" do outro, tentando contê-la.