O (não) lugar do ensino de línguas nas políticas de acolhimento a refugiados: análise discursiva de documentos internacionais | Autores: Bruno Rêgo Deusdará Rodrigues (UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro) |
Resumo: Considerando os patamares atingidos pelos fluxos migratórios na atualidade, em preocupação especial com aqueles oriundos de deslocamentos forçados motivados por graves violações aos direitos humanos fundamentais, somos interpelados, como profissionais do campo da linguagem, à reflexão crítica a respeito desse fenômeno mundial, seja motivados por cidadania ativa, seja implicados pela problematização do lugar atribuído aos direitos linguísticos nesse contexto. A motivação para este trabalho remete à solicitação concreta de atuação em supervisão pedagógica em curso de língua portuguesa para refugiados. Para esta apresentação, optamos por empreender uma análise discursiva de documentos internacionais, dos quais o governo brasileiro é signatário, cujo propósito reside em estabelecer orientações para as políticas públicas e ações governamentais, direitos sociais e garantias individuais. Como quadro teórico das análises propostas, indicamos a perspectiva discursiva assentada no dialogismo (Bakhtin, 2000) e na noção de prática discursiva (Maingueneau, 1997), possibilitando apreender, na materialidade linguística, não apenas o que se encontra efetivamente expresso nos textos, mas confere acesso a marcas que remetam a relações polêmicas estabelecidas entre enunciados. As análises empreendidas dos Acordos Regionais assinados e reiterados a partir da Declaração de Cartagena (1984) apontam para a construção de uma imagem discursiva de sujeito falante em migração em que se apagam os complexos vínculos mediados pela linguagem, em favor de uma valorização da inserção no mecado de trabalho como principal eixo de ações. Por fim, problematizamos as ressonâncias dessa paisagem linguística na dinâmica das aulas de língua com refugiados.
Agência de fomento: FAPERJ/CAPES |
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