Nosso objeto de estudo são as ordenações dos circunstanciais temporais e aspectuais. Tais noções, segundo Rocha e Lopes (2009), são dimensões que se entrecruzam, mas que transmitem informações distintas. Tempo é uma categoria dêitica, já que sua interpretação se ancora no momento da enunciação; aspecto indica as fases de constituição do evento.
À luz dos pressupostos do funcionalismo norte-americano, este trabalho tem como principal objetivo fazer uma análise comparativa entre os diferentes usos dos circunstanciais temporais e aspectuais na escrita do português e do francês. Para isso, utilizamos um corpus de notícias e editoriais dos jornais O Globo, Folha de São Paulo, Le Monde e Le Figaro.
Diversos são os fatores que podem motivar a ordenação dos circunstanciais – entre eles, o tipo de verbo, a representação e a posição do sujeito, o peso do circunstancial, seu papel semântico e sua função discursiva. Para este trabalho, focaremos na relação entre a semântica do circunstancial e sua ordem na oração, por nos fornecer diferenças significativas de usos entre as duas línguas em análise.
Consideramos, aqui, os tipos semânticos já estudados em Ilogti de Sá (2009), baseados em Martelotta (1994) e em Ilari (2001), por darem conta de algumas noções aspectuais para as quais esperamos motivações específicas de ordenação. Os valores considerados formam um continuum semântico, que parte do mais temporal (localizador) para o mais aspectual (reiterativo).
Nossas expectativas iniciais eram (a) que os circunstanciais com valor temporal (localizadoras) ocupassem mais a margem esquerda da oração, e (b) que aqueles com valor mais aspectual (em particular as reiterativas) estivessem mais presos ao verbo, ocupando, por isso, posições mediais.
A semântica do circunstancial mostrou-se relevante para a comparação entre as línguas. A partir desse fator, percebemos que há uma distinção na preferência de ordem no francês e no português (cf. Ilogti de Sá, 2015).