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Simpósio Mundial de Estudos de Língua Portuguesa
Resumo


EMERGÊNCIA DE PARENTÉTICOS EPISTÊMICOS A PARTIR DE CLÁUSULAS MATRIZES: UMA ANÁLISE CONSTRUCIONAL

Autores:
Cristina dos Santos Carvalho (UNEB - Universidade do Estado da Bahia)

Resumo:

Parentéticos epistêmicos assinalam o grau de (des)comprometimento e crença do falante  em relação ao que é dito. Ocorrem em diferentes línguas como no inglês (I think) e espanhol (yo creo), ratificando tendências translinguísticas e universais de mudança que levam à emergência de construções gramaticais (GIVÓN, 1979; BYBEE et al., 1994; CUNHA; NOGUEIRA, 2014). Neste trabalho, pretendo analisar, no português, parentéticos epistêmicos quase-asseverativos (CASTILHO; CASTILHO, 1996) de base clausal verbal, instanciados por (eu) acho que, (eu) creio que, (eu) acho, (eu) creio etc. Para tanto, utilizo, como corpus, ocorrências empíricas do português brasileiro, angolano e moçambicano contemporâneo, extraídas do Corpus do Português. Seguindo Carvalho (2017), assumo que esses parentéticos apresentam uma base clausal porque representam instanciações de mudanças de cláusulas matrizes integrantes de sentenças complexas. Tais mudanças já foram explicadas sob a perspectiva clássica da gramaticalização em distintas línguas (THOMPSON; MULAC, 1991; GALVÃO, 1999; YOON, 2015 etc). Para a análise aqui empreendida, sigo pressupostos teórico-metodológicos da Linguística Centrada no Uso (BYBEE, 2010; OLIVEIRA; ROSÁRIO, 2015  etc) e, principalmente, da abordagem construcional da mudança linguística de Traugott e Trousdale (2013). Nessa abordagem, dois tipos de mudança podem atingir (uma d)as dimensões - forma e/ou função - de uma construção: construcionalização, que afeta, conjuntamente, forma e função; e mudança construcional, que se manifesta na forma ou na função; e  há três parâmetros relevantes para a observação de tipos e estágios de mudança linguística: esquematicidade, composicionalidade e produtividade. Quanto a esses parâmetros, mostro que: microconstruções como (eu) creio que e (eu) creio representam, no português (e em suas variedades), distintos subesquemas - [(SUJP1) VEpistCompl]Parent e [(SUJP1) VEpist]Parent, respectivamente -  de uma rede construcional, que emergem a partir da atuação de mudanças construcionais; nesses subesquemas, há perda de composicionalidade sintática; existem correspondências e divergências quanto à produtividade de subesquemas e microconstruçoes nas variedades examinadas.