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Simpósio Mundial de Estudos de Língua Portuguesa
Resumo


A oralidade e a didáctica da escrita: o lugar do debate dos temas transversais no ensino secundário geral em Moçambique

Autores:
Osvaldo Carlos Guirrugo Faquir (UEM - Universidade Eduardo Mondlane)

Resumo:

Os estudantes moçambicanos dificilmente distinguem a linguagem oral da escrita. A observação de um grupo de estudantes de quatro escolas secundárias das cidades de Maputo, Beira e Nampula, no que diz respeito a práticas de escrita em sala de aula, permitiu-nos verificar que o conjunto de textos escritos produzidos carregavam fortes marcas de oralidade. Tal facto levou-nos a colocar a questão: será que a cultura africana, marcadamente oral, contribui para que os alunos daquele nível não diferenciem o texto oral do escrito? A metodologia seguida para a busca e análise dos dados é qualitativa e baseou-se nos dados recolhidos através de inquéritos dirigidos a 37 professores e 418 estudantes e nos textos escritos pelos estudantes, com e sem o feedback dos professores (Faquir, 2016). Para esta análise privilegiamos o confronto entre o discurso oral e o escrito, recorrendo a evidências textuais. As observações permitiram concluir que, sendo a componente cultural uma hipótese, há que problematizar a pertinência do debate de temas transversais propostos pelo (PCESG) (2007). Para este plano, a proposta do debate dos temas transversais visa, por um lado, traduzir um conjunto de questões que preocupam a sociedade e, por outro lado, desenvolver um conjunto de competências que permitem ao aluno reflectir, problematizar, intervir e transformar a realidade. Com estes objectivos, no final de cada debate, orientam-se os alunos a escreverem textos, inspirados nos debates, o que, poucas vezes, tem resposta eficaz, devido à dificuldade na escrita. Assim, julgamos que, mesmo considerando que a estratégia de debate de temas transversais decorra da necessidade de adopção de uma abordagem comunicativa mais ligada à promoção do uso da língua (Costa, 2010, p. 34), há que perceber este “uso” numa perspetiva mais lata, devendo englobar a componente de escrita numa perspectiva intensional, programada e sistemática, o que a estratégia não consegue contemplar.