O silenciado da língua materna das refugiadas congolesas: processo de subjetivação no aprendizado do português para refugiados
| Autores: Fernanda Moraes Dolivo (FTESM - Fundação Técnico-Educacional Souza Marques) |
Resumo: “Não falar a sua língua materna. Habitar sonoridades e lógicas cortadas da memória noturna do corpo, do sono agridoce da infância”. As palavras de Kristeva, apresentadas em seu livro Estrangeiros para nós mesmos, se constituem como mote para o tema desta apresentação, cujo objetivo principal é apresentar o modo como se dá o processo de subjetivação das mulheres congolesas - grupo significativo de refugiadas no Rio de Janeiro - quando estas tomam a palavra e (se) significam em uma língua outra, que não seja a sua materna. Essa questão faz parte do meu trabalho de pós doutorado, em que busco analisar, pela perspectiva da análise de discurso materialista, as narrativas das mulheres congolesas em situação de refúgio, colhidas nas aulas de português como língua de acolhimento oferecidas pela Cáritas/UERJ. Nessas narrativas, enuncia-se a busca constante de se identificar, fazer parte da cultura do país que as acolhe, o que perpassa por um silenciamento da língua materna, da sonoridade e dos sentidos desta, para que essas mulheres possam ser ouvidas. Porém, no processo de aprendizagem dessa língua estrangeira, o sujeito fica no entremeio da sua língua materna com a sonoridade, com os sentidos, com outra lógica da língua outra e isso funciona no modo como toma a palavra nesse outro idioma. Nesse sentido, na busca por silenciar a língua materna, esta sempre encontra uma brecha na língua estrangeira e vem a tona, por meio de um trabalho da memória. Para as análises das narrativas, os conceitos de silenciamento, apresentado por Eni Orlandi, de memória discursiva e as reflexões, à luz da análise de discurso materialista, de Payer sobre a relação do sujeito com a língua estrangeira serão fundamentais.
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