A PRODUÇÃO DE VERDADES DA DITADURA BRASILEIRA ENTRE MEMÓRIAS E ESQUECIMENTOS: UMA ANÁLISE DA EMERGÊNCIA CONTRADITÓRIA DOS ENUNCIADOS "DITADURA MILITAR" E "DITADURA CIVIL-MILITAR" | Autores: Israel de Sá (UFU - Universidade Federal de Uberlândia) |
Resumo: Sabemos que o Brasil passou por uma ditadura entre as décadas de 1960 e 1980 e que, neste período, o país esteve sob o comando de militares. Atualmente, porém, questiona-se o papel desempenhado pelo espectro civil no Golpe de 1964 e no próprio regime, se sua atuação foi fundamental para a manutenção e recrudescimento da ditadura e da repressão. Esse questionamento acaba por inscrever, na contemporaneidade, a contraposição entre dois enunciados, "ditadura militar" e "ditadura civil-militar", que parecem, inicialmente, apenas restringir ou ampliar os sentidos, mas que, na verdade, dão visibilidade a um embate no campo político e, sobretudo, pela (re)construção da história. Partindo da concepção metafórica foucaultiana de que a política é a "continuação da guerra" (em Defesa da sociedade) e o discurso "é aquilo por que, pelo que se luta, o poder do qual nós queremos nos apoderar" (em A ordem do discurso), neste trabalho, propomos analisar o confronto discursivo entre duas posições que se marcam pelos enunciados mencionados e a consequente luta pela inscrição dos sentidos históricos. Para isso, analisaremos notícias e, sobretudo, textos de opinião publicados pela grande imprensa brasileira no início desta década, em especial no ano de 2012, quando foi instituída a Comissão Nacional da Verdade ‒ nosso corpus é inicialmente formado por textos publicados, em versões impressas ou digitais, de veículos conservadores e progressistas. Teoricamente, nossa pesquisa ancora-se na AD derivada dos trabalhos de Pêcheux, em diálogo com a perspectiva arqueogenealógica de Foucault e com a Nova História, o que nos permite problematizar a constituição, a formulação e a circulação dos discursos, com o objetivo final de apreender os efeitos de sentido que se produzem no confronto entre diferentes formações discursivas que fazem entrever cada um dos enunciados destacados e o embate fundamental entre memória e esquecimentos para a produção de verdades.
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