O trabalho proposto é o recorte de uma pesquisa mais ampla, de pós-doutorado, financiada pela FAPESP (processo nº 2017/14300-7) e supervisionada pela Profa. Dra. Diana Luz Pessoa de Barros (USP/UPM). Ela pretende discutir as contribuições que a Semiótica Discursiva pode oferecer à Educação Básica, sobretudo às práticas de letramento em situação de aula. Para esta comunicação, interessa uma análise semiótica do discurso presente nos referenciais curriculares brasileiros voltados ao ensino de Língua Portuguesa, sendo eles: os Guias Curriculares (anos 1970), as Novas Propostas Curriculares (anos 1980), os Parâmetros Curriculares Nacionais (anos 1990) e a Base Nacional Comum Curricular (2016). Assim, propõe-se, para depreender as transformações impostas à prática didática tradicional, que passou do ensino pautado na transmissão de conteúdos àquele mais voltado ao desenvolvimento de competências e habilidades, examinar as propriedades formais que organizam a concepção de ensino vislumbrada em cada um dos documentos citados, identificando o funcionamento da prática didática neles prevista: a estrutura narrativa subjacente (sua sintaxe actancial e modal, o contrato fiduciário que a fundamenta) e o modo de articulação dos diferentes tipos de saber envolvidos nos conteúdos ali indicados. Para isso, as proposições de Fontanille sobre a noção de prática semiótica ajudarão a identificar a cena predicativa típica à prática didática prescrita, seja entre os diferentes papéis actanciais, as sobredeterminações modais e mesmo passionais que a especificam, seja em suas normas e deontologias. Entender a transformação da prática em sala de aula, do espaço didático no qual se dá a interação entre professor, aluno e conhecimento, segundo as orientações oficiais de referência para as reformas curriculares, coloca-se como peça-chave por permitir melhor conhecer as coerções, as necessidades de adequação que devem ser levadas em conta na didatização, bem como a articulação dos processos e mesmo das estratégias responsáveis pela sua organização, controle, regulação e otimização.