Segundo Castro (2011), usos autênticos de línguas africanas estão presentes em diversos grupos sociais deste país, como as populações negras rurais do Cafundó-SP e as comunidades de terreiros.
Nessas comunidades religiosas, percebe-se um cotidiano marcado por saberes relativos à sua ancestralidade, que demarcam o espaço físico em uma disposição afro a partir de uma ótica que privilegia as formas de ser de nações africanas de que derivam.
Nesta perspectiva, este trabalho, objetiva verificar como línguas africanas se realizam como meio de interação nessas comunidades religiosas. Para tanto, são analisadas entrevistas feitas a integrantes do Ilê Axé Omon Oyá Gerê, situado em Simões Filho-BA.
Considerando-se as situações interacionais analisadas, conclui-se que comunidades religiosas de matrizes africanas, como a do terreiro Ilê Axé Omon Oyá Gerê, se constituem como agências de letramento no sentido proposto por STREET (2006). Esse processo de letramento segue na direção de um falar caracterizado pelo uso de léxico e expressões derivadas de línguas negro-africanas e se dá durante os fazeres do cotidiano da comunidade religiosa. Nesses contextos, preservam-se valores culturais referentes às diversas identidades étnicas africanas, que são continuados ou modificados por meio de interações mediadas, prioritariamente, pela oralidade. Acompanhado desse letramento, segue-se outro, o letramento político (COSSAN, 2010, 2011), que fortalece a comunidade de terreiro na promoção de ações que visam ao fortalecimento das identidades de seus adeptos como sujeitos afrodescendentes, na sua acepção mais ampla, e como povo de santo, mantenedor de crenças e costumes civis e religiosos de seus antepassados.