Esta proposta tem por objetivo abordar as vozes marginais que são potencializadas na obra Contos Negreiros. Expressão da obscuridade vivenciada por homens e mulheres, negros e índios e seu cotidiano numa estrutura de dominação e silenciamento. As narrativas tratam de temas como racismo, tráfico de órgãos, miséria e violência, resgatam a experiência de sujeitados e suas percepções sobre as questões que lhes atravessam. Este estudo volta-se para o conto Nação Zumbi, cujo a temática é o tráfego internacional de órgãos: um negro, pobre é pego pela polícia no exato momento de comercialização do próprio rim. Na desestabilização desta cena a frase: “O rim é meu ou não é?”, é constantemente repetida pelo narrador levantando uma discursão sobre invisibilidade do sujeito na sociedade e a consequente corrupção dos direitos individuais. Atônica narrativa transcende perceptivelmente a noção de violência simbólica e física praticada pelo Estado. A finalzação da situação por meio de agreções ao personagem pelo Estado demonstra a lógica da reprodução contínua de uma estrtura que revela o modus do dominante e do dominado.
Metodologia empreendida: leitura e análise estrutural do conto, partindo-se das falas das personagens e, no interior destas, identificando-se a voz, condição fundamental à categoria de sujeito social. Nessa análise busca-se compreender as implicações trazidas pelas opções estilísticas presentes no processo de escrita desse autor: a síntese, a economia de recursos e, sobretudo, o foco na oralização.
Para tanto, é necessário recorrer a contribuições teóricas como o conceito de violência simbólica, de Pierre Bordieu (1975, 2002, 2003) e desdobramentos deste na cena contemporânea dos grandes centros urbanos. A reflexão trazida pela Crítica Pós-Colonial e o ângulo de olhar que nos fornece para o sujeito marginalizado e suas subjetivações. Também aí, a psicologia social de Serge Moscovici (2003) e a proposta de minorias ativas e seu impacto dentro da Teoria da Representação Social.