O sujeito, na concepção de Michel Foucault, se constitui pelas práticas sociais, a partir das quais ocorrem relações de saber e de poder, responsáveis pelo processo de subjetivação. Vale ressaltar, também, que a constituição subjetiva é histórica e decorrente de regimes de verdade que são instaurados em diferentes momentos, que influenciam diretamente nos modos de constituição dos sujeitos. Pensando nessa problemática, a proposta em questão objetiva refletir, discursivamente, sobre as construções subjetivas do sujeito materializado em poemas do escritor brasileiro Manoel de Barros (1916-2014), pertencente à Geração de 1945, mas integrante, formalmente, do denominado pós-modernismo literário brasileiro. No que concerne ao suporte teórico-metodológico para análises dos poemas, a Análise do Discurso de vertente francesa será acionada, mais precisamente os conceitos de enunciado, discurso, sujeito e subjetividade, defendidos pelo teórico destacado, nos quais ampararemo-nos, que integram à proposta metodológica arqueogenealógica elaborada pelo filósofo Foucault. Como temática recorrente na obra do poeta em destaque, a infância ganha lugar especial, sendo do nosso interesse para esta pesquisa, uma vez que as análises se concentrarão no sujeito ligado à construção de uma infância que se apresenta na escritura do autor supracitado. Para tanto, serão tomados três livros como recorte: O livro das ignorãças (1993); Livro sobre nada (1996) e Exercícios de ser criança (2000), por apresentarem um sujeito da linguagem em descoberta do mundo que o cerca e sua relação com escritor-poeta, pelo laço de criatividade que possibilita tal comparação, isto é, por fazer uso das palavras de maneira que foge da lógica pré-estabelecida. A liberdade da criança com as palavras e a percepção das coisas são comparadas com o criar do poeta, configurando suas subjetividades e constituindo um sujeito ligado à infância que é materializado nos enunciados contidos nos livros destacados.