Essa comunicação visa refletir sobre a ironia no romance Sombras de reis barbudos, de José J. Veiga, com vistas a não só familiarizar os alunos com a leitura dos textos da literatura contemporânea, mas, principalmente, promover o enriquecimento do domínio lexical discente. Para tanto, fundamentar-se-á o estudo em apontamentos teóricos sobre a iconicidade verbal (SIMÕES, 2009), a ironia (BOOTH, 1974; BRAIT, 1996; DUCROT, 1987; HUTCHEON, 2000; KIERKEGAARD, 2006; MUECKE, 1995), a leitura (KOCH & ELIAS, XXX) e o ensino de língua portuguesa (ANTUNES, 2003). Os resultados apresentam que a ocorrência da ironia em Sombras de reis barbudos pode tanto dizer algo diferente do explicitamente escrito (e não somente o seu contrário) quanto atribuir um efeito de sentido preferencialmente crítico e derrisório, com graus de explicitude variados, que conta com a participação do leitor para acontecer. Da forma como aparece no romance, a ironia resulta das escolhas lexicais e interfere na compreensão da realidade, exigindo uma análise discursiva, mesmo que mínima, do contexto opressivo representado pela linguagem. Nesse sentido, o engajamento dos estudantes no trabalho com um tipo de texto cujo uso didático hoje é discutível vem constatar não apenas a seriedade com que os jovens se ocupam da pesquisa, mas, sobretudo, a alegria das descobertas que resultam da leitura literária, uma vez que o estudante se conscientiza da riqueza do texto contemporâneo, tanto no plano linguístico quando no plano sócio-histórico.