Diversos estudos, filmes, poemas, livros, músicas, etc. vêm abordando como tema a cultura/tradição nordestina, a fim de melhor conhecer o multifacetado arcabouço de histórias cristalizadas na memória popular dessa região. Essas histórias marcam a constituição econômica, social, ideológica, entre outras questões intrínsecas a existência dessa cultura. Nesse cenário, o cangaço destaca-se como uma das mais importantes manifestações dessa tradição, reconhecida mundialmente, como identidade para o nordestino. Em função de sua importância para a constituição de nossa história, pesquisadores das mais diversas áreas do conhecimento (História, Sociologia, Antropologia, etc.) vêm se debruçando sobre esse fenômeno, entre eles os da Linguística Textual, ainda que de uma forma embrionária (LIMA, 2008, 2011). Por esse motivo, elegemos o “Rei do Cangaço” (SOUZA, 1997; FERREIRA; AMAURY, 1997; FONTES, 2001) como foco neste estudo, tendo como âncora a teoria da referenciação (MONDADA; DUBOIS, 2003), compreendida no interior da LT como uma atividade sociodiscursiva e interacional (CUSTÓDIO-FILHO, 2012) na qual os interactantes da linguagem, em função de um querer-dizer, manifestam por meio dos referentes/objetos de discurso suas experiências perceptivo/cognitivas de mundo (BLIKSTEIN, 2003). Em conformidade com o apresentado, nossa proposta é analisar algumas ocorrências da obra “Sertão Vermelho – Lampião em Quadrinhos” (2004) de Haroldo Magno e Edvan Bezerra, investigando como a imagem de Lampião é categorizada e recategorizada nesses quadrinhos históricos. Em nossos resultados iremos evidenciar que, por intermédio de diferentes personagens/pontos de vista, Lampião é apresentado de forma multifacetada na obra. Para isso, numa articulação entre concepções de linguagem, história e memória, este trabalho toma por fulcro as discussões e análises realizadas a partir do projeto de pesquisa “Linguagem, história e tecnologia: memórias construídas e reconstruídas sobre Lampião” (PIBITI/UFS-2014-2015), além dos estudos desenvolvidos por Lima (2009), Cavalcante et al, (2010), Cavalcante (2011, 2012), Halbwachs (1990), Barbosa (2009), Ramos (2012), Capistrano Júnior (2011, 2012), entre outros.