A neologia estilística, diferentemente dos demais tipos de neologia, raramente incorpora o léxico de uma língua. Concebida como uma forma de expressividade das palavras, ou das frases por meio de palavras, com vistas a traduzir ideias já existentes de maneira original e marcar uma visão diferenciada ou pessoal do mundo (GUILBERT, 1975), ela carreia para o engendramento de efeitos de sentido no discurso em que se insere. Desse modo, permanece no nível do discurso para fazer sentido a cada nova enunciação. Dadas estas especificidades, ela está mais afeita à linguagem literária, jornalística, familiar, afetiva, irônica, satírica, ou outras dessa natureza. No discurso literário, ela assume importante papel no desempenho da criatividade, em geral, com perspectivas estéticas. Este trabalho é parte constitutiva de projeto de pesquisa em andamento, intitulado “Criação lexical literária: um modo de compreensão da expressividade na literatura brasileira”, vinculado ao Grupo de Pesquisa de Estudos do Léxico da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) / Campus Universitário de Rondonópolis (CUR), e tem por objetivo apresentar alguns casos de unidades léxicas criadas por derivações prefixais e sufixais no livro “Menino do mato” de Manoel de Barros (BARROS, 2010), buscando demonstrar que eles expressam tanto pelo seu sentido contextualizado, quanto pelo modo de manipulação do próprio processo de criação. A pesquisa fundamenta-se na Lexicologia para a classificação e análise das unidades léxicas criadas, na Estilística Léxica para a demonstração da sua expressividade e no critério lexicográfico para a sua atestação. Os resultados parciais da pesquisa apontam que estes casos de criação lexical literária fazem parte da proposta barriana nesta obra que representa uma de suas últimas produções e sintetiza as aspirações do poeta de “brincar com as palavras” e de surpreender o leitor pelo inusitado de construções que ignoram bloqueios e restrições para fazerem sentido no discurso.