A semiótica de linha francesa entende o texto a partir de duas perspectivas: como objeto de significação, que deve ser analisado a partir de sua estruturação interna, e como objeto de comunicação, que pressupõe a relação entre os sujeitos construídos no discurso (na enunciação), inseridos numa sociedade em que circulam valores. A partir desse pressuposto, texto, nas duas acepções, pode ser tomado, em maior ou menor grau, como sinônimo de discurso, uma vez que, segundo o Dicionário de Semiótica (Editora Contexto, 2008), ambos os termos podem ser empregados indistintamente “para designar o eixo sintagmático das semióticas não-linguísticas: um ritual, um balé podem ser considerados textos ou discursos” (p. 502). Assim, assumindo-se como teoria de leitura, em abordagem discursiva, a semiótica exercita um enfoque textual (ou imanente) relacionando o acontecimento singular do contato com o texto aos procedimentos que o inscrevem num conjunto de regularidades funcionais – semânticas, narrativas ou culturais. Atualmente, o aparato teórico-metodológico da semiótica, para além de analisar e racionalizar os diferentes níveis de articulação da significação, busca ligar a efetuação do sentido com a enunciação viva, independentemente do modo como ela se organiza e da modalidade de língua e suportes empregados. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é discutir e problematizar (1) as noções de texto e de leitura, como propostas no texto da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e (2) o modo como o documento trata das diversas manifestações de linguagem e dos produtos culturais que delas decorrem.