As discussões e disputas em relação à proposta da Base Nacional Comum Curricular (doravante BNCC) alastrou-se significativamente. Desde que foi divulgada a primeira versão em 2015, multiplicaram-se os discursos em torno do assunto. E a mídia tem exercido um papel preponderante servindo de articuladora entre o governo e os demais interlocutores (professores, pesquisadores, alunos gestores etc.), tentando “traduzir” para os “não-especialistas” os discursos a favor e/ou contra o documento, no entanto, não faz isso de maneira ingênua, neutra ou imparcial. O objetivo deste trabalho é discutir os fundamentos teóricos subjacentes à construção da BNCC, principalmente no tocante ao conceito bakhtiniano de gêneros de discurso e suas implicações para o ensino de língua portuguesa. Nosso apoio teórico fundamenta-se na ADD (Análise Dialógica do Discurso). Os resultados parciais deste trabalho indicam que não adianta o governo criar uma política vertical de implantação de uma base nacional comum se o professor não estiver seguro e convencido de que isso é necessário, possível e viável dentro da sua sala de aula. Apesar de a BNCC ter se esquecido de destacar a autonomia do professor em lidar com as situações que envolvem sua sala de aula, é com o professor que o governo e todo o sistema devem contar. Daí a tão necessária formação docente, principalmente em tempos de enxurrada de documentos parametrizadores direcionadas ao ensino.
"O presente trabalho foi realizado com apoio e financiamento da Fundação Itaú Social em parceria com a Fundação Carlos Chagas, no âmbito do Edital de Pesquisa anos finais do ensino fundamental: adolescências, qualidade e equidade na escola pública".