O objetivo deste estudo é analisar a figura feminina desenvolvida pelas autoras Maria Barreno, Maria Horta e Maria da Costa em Novas Cartas Portuguesas a partir da relação intertextual da obra com as Cartas Portuguesas, de Mariana Alcoforado. O conjunto de cartas escrito e organizado pelas chamadas “três Marias” da Literatura Portuguesa percorre com eficácia o contexto histórico da Revolução dos Cravos, o governo ditatorial em Portugal e a situação político-social vivida no país. Em uma autoria conjunta, as autoras destacam a experiência feminina nesse contexto histórico e emprestaram suas vozes a mulheres que, condicionadas a uma organização patriarcal, não tinham o direito de se manifestar diante da sociedade. Por meio de cartas, as autoras logram levantar e tornar públicas questões femininas pessoais, oprimidas pela organização social. Tais questões foram abordadas partindo da própria perspectiva da mulher. Para esta pesquisa, fez-se interessante a análise da carta intitulada “Magnificat”, em que a personagem Mariana escreve a sua irmã contando-lhe de sua gravidez. Há, nessa proposta, uma relação dialógica com o canto “Magnificat”, entoado com júbilo por Maria no Evangelho de Lucas, em um momento de louvor por razão também de sua gravidez, pela qual nasceu Jesus. O diálogo se estabelece nas semelhanças e diferenças estabelecidas entre a valorização da figura de Maria na Bíblia em detrimento da desvalorização da mulher portuguesa na década de 70. Para embasar tal análise, será utilizada a teoria do Dialogismo, pensada por Mikhail Bakhtin e, considerando a relação intertextual com As cartas portuguesas, será importante traçar algumas noções do conceito de Intertextualidade, por Julia Kristeva e outros estudiosos do discurso. A análise discursiva poderá auxiliar a compreensão do sentido do fragmento cotejado, permitindo contribuir para a análise da obra em questão.