A imagem do corpo torturado em “Terra”, de Francisco Mário | Autores: Thales de Medeiros Ribeiro (UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas) ; Karine de Medeiros Ribeiro (UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas) |
Resumo: Vladimir Safatle (2015) afirma que o campo da reflexão política é, sobretudo, uma questão sobre como nós somos afetados. Uma das questões fundamentais do poder é como organizar o campo do que é visível, sensível e perceptível. No livro Caminhando e cantando: o imaginário do movimento estudantil brasileiro de 1968, Rafael Rosa Hagemeyer (2016) argumenta que em política os conceitos se transformam em força mobilizadora através de sentimentos difundidos por imagens, produzidas tanto no campo visual quanto na linguagem poética e musical. No tocante às imagens das torturas praticadas por agentes do Estado durante a ditadura civil-militar brasileira, a ausência de um registro fotográfico entra em choque com a forma repetida e regular com que certas imagens, sobretudo a figura do militante político no pau-de-arara, são formuladas e circulam em diferentes séries documentais. Se a memória é estruturada como “materialidade discursiva complexa, estendida em uma dialética da repetição e da regularização” (PÊCHEUX, 1999, p. 52), não é possível falar da história e da política sem considerar que a memória é, em si mesma, “feita de esquecimentos, de silêncios. De sentidos não ditos, de sentidos a não dizer, de silêncios e de silenciamentos” (ORLANDI, 1999, p. 59). Nesta comunicação, procuramos problematizar o estatuto da materialidade da produção estética (FERNANDES, 2016; PÊCHEUX, 2014) como tentativa de dar forma à experiência histórica da violência. Mobilizamos os conceitos de memória/esquecimento (PÊCHEUX, 1999; ROBIN, 2016) e de silêncio/metáfora (ORLANDI, 1999) para analisar a construção discursiva da imagem do corpo torturado na música “Terra” (1979), de Francisco Mário.
Agência de fomento: CNPq |
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