Práticas textuais como possibilidades de materialização das relações entre produção falada e escrita | Autores: Maria Letícia Cautela de Almeida Machado (UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro) |
Resumo: Alunos que não correspondem às expectativas da escola com relação ao aprendizado e domínio do sistema alfabético e ortográfico da língua escrita têm sido, recorrentemente, encaminhados para a clínica fonoaudiológica, reiterando o processo de medicalização da educação. Tal processo é decorrente de um dispositivo de normalização, a partir do qual se espera um padrão de linguagem, de comportamento e de atitudes que conduzam ao sucesso na alfabetização. Nessa direção, modos de escrita que não coincidem com escalas normativas são interpretados como déficits que podem indicar problemas inerentes ao aluno, autorizando que o processo de aprendizagem da escrita seja analisado por meio de critérios perpassados pelo pensamento naturalista. Neste cenário, esta pesquisa tem por objetivo analisar ocorrências ortográficas presentes em produções escritas de alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Para tanto, propõe-se como opção metodológica o desenvolvimento de uma pesquisa de base teórico-prática, nos moldes de uma pesquisa-ação, tendo como parâmetro o interacionismo sociodiscursivo. Os resultados parciais da pesquisa são discutidos sob três aspectos: a) a produção textual como materialização das hipóteses dos alunos sobre a relação entre a produção falada e escrita; b) como a estruturação e o funcionamento da língua podem estar sob o efeito das práticas de oralidade e de letramento vivenciadas pelos alunos; c) o texto como ponto de partida, como opção didática e como objetivo na formação de leitores e produtores de escrita. A partir do último aspecto apontam-se mediações pedagógicas autorais e modos contextuais de interação com a cultura escrita como possibilidades de aproximação das escritas dos alunos à escrita alfabética padrão. Conclui-se que a diversidade de escritas é legitimada por sistemas mentais plurais, definidos a partir de diferentes experiências socioculturais e contextos comunicativos. Essas escritas precisam ser tratadas como fenômenos legitimamente produzidos pelo aluno e não como produtos deficitários frente a sistemas aleatoriamente escolhidos como hegemônicos.
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