Este trabalho problematiza a narrativa autobiográfica como espaço de constituição de leitores. Objetivando investigar a formação de leitores em uma turma de 1º ano do ensino médio, os alunos foram colocados em situação de construção de suas memórias de leitores, produzindo a escrita de si como possibilidade de ressignificação da própria existência. Os pressupostos que fundamentam esse trabalho ancoram-se na noção foucaultiana de sujeito do discurso. Ao postular essa noção, Foucault interroga sobre as condições que possibilitam a alguns serem autorizados a fazer uso do discurso e a outros não (FOUCAULT, 2008, 1988, 1985a, 1985b). O interesse por essas questões relaciona-se à ideia foucaultiana de que a ética e a estética da existência, a construção do sujeito singular, o funcionamento das tecnologias do eu, presentes nas narrativas de si, são responsáveis por determinada forma de constituição do sujeito. Problematizo essas narrativas autobiográficas com a compreensão de que “o texto é, efetivamente, resultado de um processo de intertextualidade, que ajuda o sujeito a compor sua própria história, a autonarrar-se – e, autonarrando-se, reconhecer-se na história que conta e dar a si mesmo uma identidade” (SCHOLZE, 2008, p. 97). Assim, pode ser possível analisar como, por meio da escrita, “o eu está em constante fazer, desfazer e se refazer, numa perspectiva foucaultiana, em que o sujeito faz de si o objeto de sua reflexão” (SCHOLZE, 2008, p. 98). A produção autobiográfica pode ser entendida como uma prática de reflexão consigo mesmo, em sua relação com o outro e com o mundo. Proponho imergir no universo autobiográfico dos leitores a partir dos seguintes aspectos: a) influência da família, das professoras e/ou de outros nas histórias dos leitores; b) documentos-suporte das memórias como marcas da constituição dos leitores; c) impressões, sensações e emoções: significados das experiências vivenciadas com a leitura.