O vaqueiro é o ator social responsável pela ocupação do território do Ceará e por meio dele foi possível estabelecer no estado a atividade da criação de gado e, posteriormente, de outros animais. Reconhecendo essa figura emblemática no sertão, ressaltamos na presente pesquisa a linguagem desse ator social como patrimônio cultural e constituinte da cearensidade (PORDEUS JUNIOR, 2003). Desse modo, a presente pesquisa objetiva investigar e sistematizar a linguagem de vaqueiros do Ceará como um patrimônio linguístico, histórico e cultural, o que justifica o desenvolvimento de um estudo léxico-cultural, ressaltando a identidade do grupo estudado e divulgando as problemáticas vivenciadas por esse grupo. A metodologia desse estudo é de natureza qualitativa e se fixa no método etnográfico para desenvolver uma observação participante nos municípios de Canindé e Morada Nova, ambos localizados no Ceará. O percurso metodológico é composto por observações in loco, entrevistas semiestruturadas, delimitação do campo lexical cultura do vaqueiro e elaboração do vocabulário desse campo. O referencial teórico é composto por Hoggart (1957), Williams (1958), Thompson (1963), Bauman (2005) e outros teóricos dos estudos culturais; por Pontes (2009) e Krieger (2006) dos estudos do léxico; por Coseriu (1981) e Bakhtin (2006) no que se refere à léxico-semântica e às concepções de realidade linguística na LA; e por Coseriu (1981) e Abbade (2009) quanto à teoria dos campos lexicais. Por fim, chegamos ao denominador de 629 lexias distribuídas em macrocampos, microcampos, subcampos e sub-subcampos. A partir dessa estrutura, foi possível organizar o vocabulário da cultura do vaqueiro e revelar a sua riqueza lexical, contribuindo para o reconhecimento dessa cultura como genuinamente cearense e que traz em seu arcabouço os traços das comunidades rurais cearense do passado, mas que (re)existem até a contemporaneidade.