Após uma série de crises econômicas e políticas enfrentadas desde 2013, medicamentos e alimentos tornaram-se inacessíveis para grande parte da população venezuelana. As tensões no país vizinho, no entanto, se intensificaram em 2017, quando venezuelanos foram às urnas eleger uma Assembleia Nacional Constituinte – gerando conflitos com o atual presidente. A população, desacreditada e desabastecida, buscou, então, saídas para a crise humanitária além das fronteiras, dando início a um processo imigratório que ainda leva milhares de pessoas aos países vizinhos. No Brasil, e mais especificamente em Roraima, estima-se que diariamente cerca de 800 imigrantes cruzem a fronteira ao norte do estado. Dados oficiais indicam que atualmente existem 40 mil venezuelanos em Boa Vista, representando cerca de 8% da população do estado de Roraima e 12% da população da capital.

Ao oferecer refúgio, o Brasil permite que os imigrantes obtenham carteira de trabalho temporária e matriculem seus filhos em escolas. Um dos desafios, no entanto, é prover a assistência pública à qual têm direito. Tendo em vista o que foi acima exposto, é possível vislumbrar uma alteração em grande escala do espaço urbano e a direta interação do imigrante com este. Através da literatura de uma dada época é possível coletar indícios de como foi e vem sendo construído e alimentado o imaginário popular sobre um determinado evento. E sendo a imigração do país vizinho um fenômeno atual e emergente, faz-se necessário a reflexão sobre o fazer literário deste momento para que seja possível analisar como está sendo conduzida a construção do imaginário popular sobre este imigrante e esta sociedade com a qual convive. Logo, as produções poéticas de escritores, compositores, poetas, etc, veiculadas tanto em meio impresso, seja em fanzines ou revistas, como em meio digital, tais como blogs, sites e redes sociais, são utilizados para compor o corpus dessa pesquisa.