A escrita do trauma em Tropical sol da liberdade, de Ana Maria Machado, e Não falei, de Beatriz Bracher | Autores: Zuzana Burianova (UP OLOMOUC - Universidade Palacky em Olomouc) |
Resumo: O objetivo da comunicação é analisar o modo de representação de experiências-limite, concretamente de vivências traumáticas relacionadas com o período da ditadura militar, nos romances Tropical sol da liberdade (1988), da escritora e jornalista brasileira Ana Maria Machado, e Não falei (2004), da romancista, contista e roteirista brasileira Beatriz Bracher. Estas duas obras de autoria feminina, que se debruçam sobre um dos períodos mais problemáticos da recente história brasileira, aproximam-se não apenas no seu tema, como também no modo de tecer o discurso fragmentado, pós-traumático dos seus protagonistas. Oscilando entre a vontade de esquecer e a necessidade de falar, eles revivem, em uma narrativa emocional que flui entre a memória do passado e o momento presente, os acontecimentos do período ditatorial, tais como o movimento estudantil, a resistência armada e a dura repressão do regime militar, que deixou marcas indeléveis nas suas vidas pessoais e na vida de toda a sociedade brasileira. Neste processo de rememorar, marcado por lapsos de memória, inseguranças e bloqueios psíquicos, eles buscam não apenas cicatrizar as feridas psíquicas sofridas durante a ditadura, mas procuram também rever e compreender os sonhos, erros e utopias da sua geração, que lutou contra o regime. Juntamente com a rememoração dessa época, as duas narrativas oferecem uma visão crítica sobre a sociedade pós-ditatorial, mostrando as dificuldades do processo de regresso à democracia. A análise das obras vai apoiar-se nas teorias do trauma, sobretudo de Sigmund Freud e Márcio Seligmann-Silva, e na teoria do Real de Slavoj Zizek.
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