Os conceitos de literatura negro-brasileira, afro-brasileira ou afro-descendente estão em ascensão desde a década de 1980, mas não foram institucionalizados e permanecem em tensão. Essa tensão é tanto interna – como denota a multiplicidade de nomenclaturas e de polêmicas –, quanto com o campo, este sim institucionalizado, da Literatura Brasileira. Pensando nisso, este trabalho, o qual é parte de minha tese de doutorado (em andamento) sobre a escritora maranhense Maria Firmina dos Reis (1822-1917), tem como objetivo um exercício de revisão bibliográfica e de reflexão teórica na medida em que se propõe a investigar os conceitos de literatura negra ou afro-brasileira no bojo de sua elucubração e também em relação ao que se entende por literatura brasileira. Essa leitura comparada se impõe quando analisamos os textos críticos e literários identificados ou auto-identificados com a literatura negro/afro-brasileira. Nesse contexto, destacam-se convergências – especialmente em termos de resistência ao discurso dominante; de valorização de aspectos ligados ao negro; de resgate de uma memória diaspórica invisibilizada pela literatura e crítica literária brasileira – e divergências, principalmente sobre a questão da autoria, que ainda permanece controversa dentro desse debate, merecendo uma atenção mais detalhada da crítica contemporânea. Para ilustrar essa discussão, concluiremos refletindo por que e como Maria Firmina dos Reis vem sendo resgatada contemporaneamente pelo campo da literatura afro/negro-brasileira.