Esta proposta analisa as relações entre o processo de inclusão da figura da mulher negra nas produções literárias nacionais e as diversas formas de representação discursiva dessa personagem que sempre esteve à margem. Desse modo, temos por base as reflexões teóricas de Domício Proença Filho (2004), Homi Baba (1998), Kabengele Munanga (2009), Franz Fanon (2008), Djamila Ribeiro (2016), Angela Davis (2016). Muitos exemplos ilustram esse direcionamento temático e nos embasam rumo a uma interpretação consistente dessa temática, ainda carente de reflexões fecundas, mas necessária a uma postura indagadora que interprete a literatura sem distanciá-la de sua potência receptora das diferenças - materialização discursiva crivada pela diversidade. Nessa direção, opomos duas visões sobre a mulher negra em produções literárias brasileiras. Na primeira, a “visão distanciada”, encontramos produções que remontam à poesia satírica de Gregório de Matos, passando pela prosa romanesca de Bernardo Guimarães (A escrava Isaura) e de Aluísio Azevedo (O cortiço). Na segunda visão, a da “atitude comprometida”, abordamos a produção de autoras negras, tais como Maria Firmina dos Reis (Úrsula), Geni Mariano Guimarães (Leite do peito) e Conceição Evaristo (Becos da memória). Estes últimos exemplos, por sua vez, nos revelam uma literatura de mulheres negras, criada a partir do seu lugar de fala, numa atitude estética representativa de sua condição humana e preocupada com as injustiças sociais. Por essas e outras razões, as autoras não se furtam em discutir as questões e problemas candentes de sua conjuntura social, nesta incluída a complexa temática da desigualdade racial e étnica, ramificada em diversos aspectos, tais como: a condição social da mulher negra; os desafios do respeito à diversidade cultural e racial de nosso povo; o posicionamento político e artístico dos artistas negros no interior de seus grupos, de suas comunidades e de seu país.