Neste trabalho, analisam-se interpretações, de adultos de classe média com ensino médio completo, graduandos ou graduados, de duas charges sobre Reforma Trabalhista, a fim de descrever os tipos de rede de mesclagem envolvidos na conceptualização de sentidos atribuídos aos textos e, dessa forma, evidenciar rotinas cognitivas e diferenças na ativação de domínios de conhecimento pelos participantes da pesquisa. Para tanto, fundamenta-se, sobretudo, nas teorias da Mesclagem e da Metáfora conceptuais (LAKOFF; JOHNSON, 2002[1980]; FAUCONNIER; TURNER, 2002) e nos conceitos inter-relacionados de frame (FILLMORE, 1982) e modelos cognitivos idealizados (LAKOFF, 1987). As charges selecionadas foram coletadas por meio da ferramenta Google Imagens, a partir da busca por textos multimodais, compostos por texto verbal e imagem, utilizando-se a expressão “charges reforma trabalhista”. Os resultados parciais da análise evidenciam a ativação de metáforas conceptuais via mesclagem e o papel de compressões de relações vitais no acesso otimizado a conhecimentos armazenados sob a forma de frames, como o de RELIGIÃO CRISTÃ e TRABALHO. No decorrer da pesquisa, pretende-se testar as seguintes hipóteses: (i) na conceptualização da primeira charge, conceptualizadores sem conhecimento formal sobre o gênero charge compreenderiam que o texto apresenta um posicionamento a favor da reforma trabalhista; enquanto aqueles que possuem tal conhecimento entenderiam que a charge pode expressar uma opinião a favor da reforma ou uma crítica jocosa a ela; e (ii) na conceptualização da segunda charge, o frame de REFORMA DA PREVIDÊNCIA é ativado em lugar do frame de REFORMA TRABALHISTA, como uma elaboração a partir da mescla, tendo em vista o acesso ao frame de CRUCIFICAÇÃO como um dos inputs, uma vez que charges sobre Reforma da Previdência remetem, muitas vezes, à morte do trabalhador antes de se aposentar.