A construção de um texto, tanto no momento da escrita, quanto da leitura envolve questões reflexivas como: quem é o autor ou leitor do texto? Quando e onde foi escrito? Por que e para que foi escrito? Quais os efeitos de sentidos pretende desencadear? Quais as escolhas linguísticas, passíveis de análises, foram feitas e com que intenções? Essas questões apontam para as condições que o texto foi elaborado. Diante disso, este trabalho pretende refletir sobre as mudanças de enfoque nas aulas de língua portuguesa. Para tanto, pautamo-nos em Ducrot (1989), Fernandes (2007) e Travaglia (1997, 2003), que abordam questões relevantes sobre o assunto. Inicialmente, explicamos como a análise linguística pode ocorrer em uma perspectiva tradicional e em uma perspectiva discursiva, a partir de exemplos práticos, relacionados com o cotidiano do usuário da língua. Em seguida, apresentamos o processo do ensino e da aprendizagem das unidades linguísticas, que tratamos como escolhas lexicais ou partes das palavras que significam, como os afixos, diferenciando uma prática de linguagem na visão tradicional, a partir apenas da gramática normativa e uma prática na visão discursiva, pautada nos entornos que cercam o enunciado. Isso significa dizer que incluímos nessa prática a história, os sujeitos, o grupo social, a cultura, a ideologia que envolvem o enunciado em análise. Abordamos, também, a importância do poder argumentativo da linguagem em uso, quando o produtor do texto escolhe uma palavra e não outra, ou seja, ao decidir pelo uso de uma unidade linguística o autor pretende indicar uma direção de sentidos, apresentando determinadas conclusões. Enfim, observamos que o autor e o leitor devem ficar atentos para as escolhas que delineiam o texto, pois elas mobilizam sentidos e por trás desses sentidos há intenções que devem ser descortinadas nas produções de leitura e de escrita.