Este trabalho filia-se à Análise de Discurso de linha materialista, traz como referencial teórico-metodológico os estudos desenvolvidos por Michel Pechêux bem como seus desdobramentos no Brasil. A delimitação do corpus em estudo é constituída pela obra literária “Auto da Compadecida”, de Ariano Suassuna; para esta apresentação, escolhemos a versão fílmica (2000), sob a direção Guel Arraes. Desse modo, a pesquisa propõe-se a estudar como o discurso sobre a mulher se textualiza humoristicamente na versão fílmica de “Auto da Compadecida”. Para tanto, buscamos compreender os efeitos de sentidos considerados “humorísticos” nos enunciados; vamos nos ater aos efeitos de sentido irônico provocados pela voz dos personagens, os quais são tidos também como engraçados. A partir deste estudo, poderemos relacionar a maneira como a mulher é significada tanto numa produção de ficção quanto as representações que circulam na realidade social brasileira. Refletiremos como filósofos, tais como, Aristóteles e psicanalistas como Freud deram visibilidade para ironia ao longo dos anos. Mobilizaremos alguns conceitos da Análise de Discurso, a saber, memória discursiva, interdiscurso e ideologia, condições de produção, que nos farão refletir sobre a discursividade posta em circulação sobre a mulher no discurso humorístico, tanto no momento da divulgação da sua versão escrita e, principalmente, neste trabalho, em sua versão fílmica. A análise da pesquisa nos possibilitou perceber que a maneira como a personagem Dora se porta rompe com a ordem moralista imposta pela sociedade patriarcal, regida por valores religiosos. A versão fílmica abre espaço para a mulher se posicionar como aquela que assim como o homem, é capaz de realizar seus desejos sexuais com outro que não seja seu marido, mesmo mantendo um matrimônio.