O presente trabalho objetiva revisitar o conceito de gêneros do discurso do Círculo de Bakhtin a fim de compreendê-lo dentro da perspectiva dialógica de sujeito e linguagem. Tendo em vista que esse conceito é abordado de maneira inacabada em vários textos do Círculo e que o “Os gêneros do discurso” (2003 [1952-53]) não abrange toda a complexidade do conceito, é preciso ir a outras obras do Círculo para que seja melhor compreendido. Como opção metodológica para o que é proposto, optamos pela dialogia para compreensão do conceito escolhido dentro da arquitetônica que é o pensamento do Círculo. Assim, notamos que para o Círculo o meio social e a enunciação são compreendidos inseparavelmente e, como são diversos os campos de atuação humana, diversos são os modos de se usar a linguagem. Cada campo tem seu repertório de usos da linguagem que vai se transformando e ampliando à medida que o próprio campo se desenvolve, transforma e se torna mais complexo. Portanto, se há o interesse em estudar os modos de dizer humanos, é necessário compreendê-los dentro de um campo porque as enunciações sempre se dão entre sujeitos inseridos nele. Nessa perspectiva, há uma relação indissolúvel entre os tipos de enunciados, sua função na interação verbal e as atividades desenvolvidas no interior de cada campo. Por sua vez, no interior desses campos há relações axiológicas e dialógicas os faz permanecer em constante arena em seu interior e com outros campos. Nessa luta axiológica, tipos relativamente estáveis de enunciados se formam refletindo e refratando a porção da realidade que determinado campo é capaz de dar conta. Portanto, para compreender os gêneros do discurso conforme é proposto pelo Círculo de Bakhtin, é necessário não esquecer que o conteúdo, a forma composicional e o estilo são sempre elementos constituídos na dialogia dos campos ideológicos.