O pensamento arquipelágico de Édouard Glissant na escrita feminina de Paulina Chiziane | Autores: Érica Luciana de Souza Silva (IFF - Instituto Federal Fluminense) |
Resumo: A literatura escrita por mulheres africanas é, acima de tudo, uma das grandes vitórias sobre os estigmas sociais e antropológicos consolidados no decorrer dos séculos, os quais acabaram por instituir verdades absolutas baseadas em preconceitos raciais e de gênero. São textos que trazem consigo todo um repertório que provoca a inquietude do leitor por transgredir a visão única e estereotipada sobre os escritos e a realidade feminina. Paulina Chiziane se insere como uma escritora que procura resgatar a essência da mulher moçambicana, ultrapassando as imagens rasas de mãe, subordinada, objeto de troca, instrumento de prazer e alça seus textos a uma categoria mais abrangente, alcançando um caráter universal que traduz a dor e a humilhação vivenciadas por mulheres em todo o mundo, principalmente as latino-americanas. Paulina desnuda verdades absolutas, que na verdade são apenas relações sociais com o poder, cuja verdadeira finalidade é a dominação. Assim, encontra-se em seus textos o que o poeta martinicaniano Édouard Glissant nomeia de Pensamento do Tremor ou Pensamento Arquipelágico, aquele que impede que as leituras e suas respectivas compreensões trilhem apenas uma direção já pré-estabelecida, mas se espalha em todas as direções. É a possibilidade de permuta com o outro sem perder ou deturpar sua identidade e, ao mesmo tempo, corroendo as bases do preconceito e da intolerância. Esta teoria permite uma nova abordagem dos textos de Paulina como aqueles que reconhecem que a paisagem feminina africana não se relaciona com a paisagem masculina europeia, exceto quanto aos estigmas fortalecidos pela colonização. Assim, através das palavras, esta escritora feminina luta para defender a paisagem social moçambicana que lhe é tão familiar e ao mesmo tempo tão sofrida.
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