“Todo poeta é um traficante de armas”: Ricardo Chacal, bioescrita e resistência
| Autores: Juliana Carvalho de Araujo de Barros (UNIP - Universidade Paulista) |
Resumo: Pretendemos abordar as formas de resistência na poesia de Ricardo Chacal - poeta que surgiu nos anos 70, na chamada Poesia Marginal, e que continua produtivo até hoje. Sua poética busca eliminar os limites entre poesia e poeta; arte e vida; discurso e máscara. Chacal mantém hoje a mesma crença de mais de 40 anos: a possibilidade de uma poesia-encarnada, uma força de resistência, uma força heroica, biotônica vitalidade. Em um dos cenários mais sanguinários que a América tropical já vira – a ditadura Médici, que aniquilava qualquer um que discordasse de seus desmandos – as mãos jovens e ousadas de Chacal vendiam seus livrinhos artesanais nas ruas cariocas. Tal atitude é reveladora no sentido de marcar a proximidade do poeta com o leitor, tête à tête. O próprio título do livro - Muito prazer, Ricardo - já é uma pista deste desejo de aproximação. Além de mais acessível à leitura por causa da linguagem coloquial, também a poesia se tornou, a partir de Chacal, mais acessível à produção editorial. O poeta poderia produzir seu livro artesanalmente e vendê-lo nas ruas, de mão em mão. Assim, a publicação independente furava o bloqueio da censura e levava para a rua não só o livro, mas o corpo do poeta. Chacal performatiza sua poesia e convoca o corpo para cena. No corpo cidade, cabe esse encontro, cabe a sociedade criadora. No poema, cabe a vida e tudo que dela jorra. Poema-manancial. “Transformação da sociedade em comunidade criadora, em poema vivo; e do poema em vida social, em imagem encarnada.” (PAZ, Octavio, 2009, p. 96) A obra de Chacal revela o anárquico do poeta, a consciência política, a política do/no corpo, a política da arte, da poesia, a opção por fazer da poesia um modo de viver a vida.
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