Por que as crianças, do seu ponto de vista, aprendem a ler e escrever? | Autores: Profª. Dra. Silvia de Mattos Gasparian Colello. (FEUSP - Faculdade educação da Universidade de São Paulo) ; Dalila Gonçalves Luiz (FEUSP - Faculdade educação da Universidade de São Paulo) |
Resumo: Partindo do princípio de que a relação dos sujeitos com os objetos de conhecimento afeta a aprendizagem, a pesquisa a ser apresentada busca captar tendências no posicionamento de alunos acerca dos objetivos da alfabetização. Valendo-se dos referenciais construtivista e histórico-cultural, o estudo chama a atenção para o papel do “letramento emergente”, isto é, a qualidade das experiências vividas, na família e na sociedade, que sustentam a relação dos sujeitos com a língua escrita e, até mesmo, a disponibilidade para aprender. A esse respeito, vale lembrar as implicações das desigualdades sociais, já que muitos alunos que ingressam na escola não tiveram um “trânsito” significativo na cultura letrada. Da mesma forma, vale lembrar de práticas pedagógicas artificias, que não conseguem lograr o sentido do ler e escrever. Além disso, como a alfabetização envolve um processo de aculturação que não está livre de conflitos, a aprendizagem pode encontrar mecanismos de resistência, nem sempre compreendidos pelos educadores. Como estratégia metodológica, entrevistamos, em dois momentos do ano letivo, 30 alunos de Ensino Fundamental I provenientes de diversas escolas públicas na periferia de São Paulo. A amostra de 60 depoimentos justifica-se pelo interesse em estudar o segmento social com maior índice de fracasso escolar. Os resultados apontam para a prevalência de posturas difusas e fragmentadas, que priorizam objetivos escolares (“Aprender a escrever para passar de ano”) e os ganhos externos à própria língua (“Ler para a mãe ficar contente”) em detrimento de posturas que legitimam essa aprendizagem em si (“Aprender para ler livros”). Ao lado de respostas reducionistas, é possível vislumbrar, nas poucas posturas de valorização da língua escrita, perspectivas de mudança da relação do sujeito com o universo letrado. Por essa via, podemos situar caminhos capazes de contribuir para a superação de dificuldades: práticas pedagógicas capazes de resgatar os valores da língua escrita.
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