Neste trabalho, pretendo realçar o papel da canção na literatura brasileira contemporânea, pensando a canção como parceria entre música e literatura, entre som e palavra e também como retomada da poesia lírica em sua formação inicial, declamada e cantada. Segundo Ricardo Aleixo, a obra do poeta Paulo Leminski como compositor pode ser dividia em quatro partes: 1) as obras em que escreveu sozinho letra e música; 2) as que escreveu em parceria; 3) os poemas que foram musicados por outros artistas; 4) as parcerias póstumas. Nossa leitura focará no bloco de músicas em que o poeta escreveu sozinho, em particular na trajetória do poema-canção “Verdura”. Em muitos registro, Leminski deixou explícito que desejava utilizar a canção como forma de restituir à poesia escrita seu veículo originário: a voz. Em entrevista transcrita no Song Book (2015, pp.54-55), concedida a Aramis Millarch, em 1982, Leminski diz que antes de adentrar no mundo das canções sua obra era estritamente feita para a cultura letrada, ele estava lendo Homero no original, por exemplo, e não tinha tempo para pensar em canção, porém, com o tempo, percebeu que Homero tem tudo a ver com a canção e que ele, portanto, conseguiria fazer essa transição, ou seja, retomar a tradição oral iniciada pela declamação de poemas épicos na Grécia Antiga e refleti-la no poema-canção-oral na atualidade. A proposta, portanto, é perceber como Leminski conseguiu imprimir essa característica oral à poesia escrita, por meio de suas canções produzidas entre as décadas de 70 e 80 e, em contraponto, pensar como esse trabalho é recebido hoje em dia no Brasil, com o resgate de sua obra, especialmente com a publicação do Song Book do poeta.