Perguntas-eco servem para reparar ruídos na comunicação, podendo se aplicar a fragmentos de palavras mal ouvidos (“Ele disse que a lei é anticonstitu—o quê?”). Perguntas são retóricas quando o falante não quer obter novas informações, mas somente criar um efeito pragmático marcado. Elas podem ser respondidas pelo próprio falante (“Quem você acha que eu sou? Sou Fulano de Tal!”). O fenômeno que denominamos de perguntas-eco retóricas consiste em fazer uma pergunta-eco sobre um fragmento de palavra e responder com o resto da palavra, criando um efeito jocoso (e.g. “Essa conferência vai ser mara—o quê?—vilhosa!”). A segmentação da palavra obedece a distintos fatores morfofonológicos e métricos. O padrão acentual iâmbico do formante “o QUÊ” deve ser espelhado nos fragmentos criados (“maRA—o QUÊ—viLHOso”, “soNAM—o QUÊ—buLÔ). Interagem com esse princípio geral outros fatores de ordem morfofonológica. Embora o princípio do espelhamento iâmbico possa criar novos acentos, como em “soNAM—o QUÊ—buLÔ”, ele nunca desloca o acento primário do fragmento pós-pergunta (“aDO—o QUÊ—RÁvel” / *“aDO-o QUÊ-raVEL”). Contudo, leva ao deslocamento do acento primário no fragmento pré-pergunta (“ciVI-o QUÊ—CÔ”). O ponto de segmentação está relacionado ao requisito de espelhamento do padrão iâmbico, mas também leva em conta a possibilidade de manter à esquerda da pergunta um fragmento que tenha o mesmo número de sílabas que a raiz da palavra (“bis.bi.lhot-eiro” → “bisbiLHO—o QUÊ—TEIro”, mas “ba.jul-adora” → “baJU—o QUÊ—laDOra”). Dada a natureza preferencial, mas não estrita dos princípios que regulam esse fenômeno, iremos analisá-lo a partir da Teoria da Otimalidade (Prince; Smolensky 1993). Demonstraremos que os pontos onde as palavras são segmentadas obedecem à seguinte ordenação de restrições: IÂMBICO À ESQUERDA > IDENTIDADE COM RAIZ > *PÉ DEGENERADO > MANTER ACENTO TÔNICO > IÂMBICO À DIREITA.